Para Salvino o maior motivo de orgulho é outro. Era no seu forno que se torravam as farinhas 33, Amparo, Predilecta, Diamantininha. Homens e mulheres que têm hoje 70 anos começaram por alimentar-se das farinhas que ali torrava. Neste trabalho era ajudado por dois homens e pela mulher, também ela vinda da Galiza, de seu nome Deliciosa. Todos já morreram. Salvino recorda sozinho os muitos quilos de fava, de trigo, de cacau, de açúcar. Lembra-se das sacas de 100 quilos que chegavam à Calçada da Mouraria, pelas seis de manhã. Carregá-las, armazená-las, e depois fazer funcionar o forno, dia e noite, noite e dia. No forno, a pedido dos vizinhos e da “rapaziada” assava-se batata doce.
Salvino deixou o forno e o trabalho duro, aos 70 anos. Entregaria a gestão do forno a um conterrâneo, Manolo Carrera, que o baptizaria de Forno do Alfarrabista. Houve livros como pão para a boca, tertúlias e sopa da fava rica. Hoje ainda se serve esta sopa, por encomenda, Manolo deixou a receita e o restaurante ao cuidado de sócios portugueses. Regressou à Galiza, destino comum entre galegos na diáspora. Salvino, a chegar aos 90 anos, resolve assim o seu “apego à terra onde se nasce”: é seis meses galego e seis meses um português, lisboeta, da Mouraria.